sexta-feira, 13 de julho de 2012

Do fim da tristeza e do que a dança ensina

E ela estava lá, acuada - a menina por de trás da moita, só observando assustada o que acontecida a sua volta. E cada vez mais, a cada vez que se defrontava com o desagradável, o não desejado, com aquilo que incomodava, tratava de absorver tudo aquilo, como numa necessidade esquisita de "fagocitar" o mal... Mas por mais boa que  a menina fosse, não conseguiria jamais realizar a proeza de não se afetar com tudo aquilo - então adoecia. 


Nestes momentos de convalescença, nada mais vinha a sua cabeça além da sensação triste de que além de não ter sido capaz de matar o mal, o mal a estava transformando em algo muito diferente do que era e do que gostaria ser. E os momentos bons eram vividos com medo, e os maus esperados como num combate - era preciso reagir a todo momento... 


Nada mais injusto, pensava a menina, ela, tão boa, sofrendo as consequências da maldade das pessoas e do mundo. Não entendia, porém, que não precisava querer abraçar todos os males do mundo - tantos eram os estímulos, e tantas as situações desagradáveis, que ela não via como não reagir daquela forma. E aí caía e ficava lá n chão, mais uma vez à espreita, na moita, esperando pelo pior... não havia remédio que curasse toda aquela dor.


Certo dia, a menina sentiu saudades de suas aventuras, risadas e de como era livre despreocupadamente... E neste momento se espantou de como havia sido forte um dia. Forte a ponto de não deixar que nada, por mais esquisito que fosse, se aproximar e a derrubar.


Foi assim que, como boa dançarina que era, resolveu fazer sua dor dançar. E ela, dançou junto - da forma como havia aprendido com seus mestres: sem perder o equilíbrio e sem medo de encarar de frente o parceiro, crescendo e trazendo para a dança toda aquela energia, vontade de viver e leveza que possuía em seu interior, revelando-se em cada passo e cada gesto como a dama que faz e acontece - a rainha do baile.


Pois não importava que o parceiro fosse ruim, cabia a ela ser o que era, olhar pra dentro e fazer o que fosse para transmitir a sua verdade. E ela era boa! E a dança a ajudava a trazer tudo aquilo que estava ali, naquele fundinho, guardado, mas que se ampliado não deixava margem pra que nenhuma dor, tristeza ou medo se aproximasse. E assim, ninguém a segurava - segura de si que era, por estar lidando com o que de mais real e sincero brotava de sua alma. Dançando, ela era ela, mais do que nunca...


Afinal, ela era muito feliz - por ser quem era e por resgatar tudo aquilo. Aquilo que a fazia sorrir e viver na leveza de antes...Do resto,o tudo havia sido um processo de reconhecer o mal... e aprender que seria preciso encará-lo nada além de um parceiro de dança - que vem e que vai quando se acaba a música.





Um comentário:

Caroline Tavares disse...

Lindo! Arrepiante!
É maravilhoso quando descobrimos algo que nos dá poder, que nos deixa à vontade para nos apropriarmos de nós e ficarmos seguros. Parece que o seu poder é resgatado pela dança!
Nossa vida depende do nosso olhar!
Feliz por ver a menina dançando!!!
Muitos beijos