quinta-feira, 24 de abril de 2014

Da tempestade e da bonança

E ao parar e fitar o horizonte naquela tarde de garoa fina, ela subitamente compreendeu a finalização e o encerramento que se lhe apresentavam adiante.

Mais um ciclo de tempestades havia chegado ao fim.
E a calmaria espelhada no movimento das gotas finas que caíam do céu emolduravam a dinâmica dos próximos dias.

Sintomaticamente, isto lhe trazia a sensação de que seria preciso aprender mais sobre como lidar com os momentos de agitação e como conviver com as tormentas que fazem parte da vida.
Mais do que nunca, ficou claro o segredo que comanda sua vida - esta dinâmica havia sido escolhida por ela mesma, para lhe acompanhar em seus dias: oscilações de calmarias e tempestades.

Era na tempestade que criava e que fazia o ser tornar-se, após o mergulho no olho do furacão, a introspecção.
Era na calmaria que se expandia, espalhava suas ideias e feitos por aí.

Saber trazer a calmaria nos momentos tempestuosos sem perder a força da direção, essa parecia ser a verdadeira lição.

domingo, 25 de agosto de 2013

Fora do eixo

Deslocamento
ausência de sentido
não reconhecimento

De repente, você olha a situação de fora, percebe que você está lá, mas não entende o porquê
Você não legitima a sua presença ali
Você não se legitima
Ao menos, daquela maneira

O distanciamento, necessário, desejado e aceito provoca, agora o mal-estar
Voltar à posição inicial mostra-se incômodo e indesejado
Mexer com um passado
Com um eu não-mais-eu
E precisar encarar, sem desequilibrar...

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Volta, volta para o seu eixo
Nele, seu movimento tem força e sentido
Nele, você é mais porque tem o poder
E mesmo sem saber qual será o próximo passo
É capaz de arriscar saltar e girar sem medo, ainda que num pé só.

terça-feira, 9 de julho de 2013

A dor e eu

"Sou uma caminhante na estrada do aprendizado. Às vezes, exausta, eu paro um pouquinho. Cuido das dores. Retomo o fôlego".

E não é, senão quando sinto dor, o momento em que mais reconecto-me comigo mesma? A dor me faz olhar para dentro, refletir sobre os meus atos, na tentativa de entender a sua causa e procurar evitar mais dores no futuro...

Sim, é a dor que faz parar o corpo e redirecionar o pensamento, que segue fluindo, mas não da mesma maneira. Pensamento que antes, só visava me guiar para atingir o objetivo que eu havia me colocado, agora, me faz, amparado pela dor, perceber que mais importante do que o objetivo, sou eu e no que consigo me tornar nesta caminhada.

E nesse 'olhar pra dentro', a dor do corpo acaba sendo o menos importante e o menos dolorida que a dor da alma, que nos faz perceber o quanto deixamos de cumprir com nós mesmos, o quanto nos deixamos pra trás, o quanto esquecemos de nós nessa caminhada.

Pela compaixão provocada em nós e pela vontade de fazer diferente é que conseguimos nos recuperar e seguir adiante, desta vez, mais fortalecidos e protegidos contra a dor gerada pelo nosso esquecimento de nós.

SP, 09/07/2013,  com torcicolo.

domingo, 30 de junho de 2013

Art deco

Eu desejo ocupar minha mente com preocupações comuns a todos os mortais (ou, pelo menos, boa parte deles). Pensar na comida para o jantar, na roupa para lavar, nas preocupações mais infames e necessárias da vida cotidiana.
Quero ter a sensação de que consigo resolver as coisas pragmaticamente. E, ao menos uma vez poder gastar meu tempo pensando em formas, cores, ambientes...

Há momentos em que simplesmente os desejos vêm. E o meu momento chegou. Não canso de imaginar como seria e de torcer para que seja ao menos um pouco parecido com o que espero: calmo e degustativo. Sim, quero degustar, ainda que sensorialmente cada novo elemento, cada sensação de ter um espaço montado e arranjado, construído e recomposto a cada momento. Um espaço meu. O meu espaço. No qual a liberdade de fazer ou não fazer reine sobre qualquer outro empecilho. Porque se de obrigações a vida está cheia, que elas possam ser acolhidas e realizadas aonde nos sintamos em casa.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Navegando

Esta noite sonhei que estava em uma embarcação grande e eu era a responsável por conduzi-la. Na embarcação, que não era nem um barquinho, nem um navio gigante, mas tinha certo espaço e uma estabilidade não tão boa, estavam algumas pessoas importantes para mim.

A correnteza era intensa, como a de um rio, mas eu sabia que estava no mar, e às vezes ajudava. A embarcação andava com rapidez, por volta de uns 60 km/h acredito... tinha horas que parecia um rafting!

E embora eu mais ou menos soubesse o que fazer, tinha medo de que não o conseguisse: medo de não saber atracar o barco quando fosse necessário, medo de não saber manobrá-lo devido à alta velocidade, medo enfim de que tudo aquilo afundasse. Nesse barco, havia pessoas que não sabiam nadar, mas acredito que o medo maior nem era por elas, mas por mim mesma.

O barco era meu, e, embora houvesse muita gente nele, não cogitei em nenhum momento que essas pessoas poderiam me ajudar, caso ele estivesse afundando...

Às vezes, as incertezas da vida nos causam esse medo e a impressão de estarmos sós, mesmo acompanhados. Por outro lado, a minha vida e a minha liberdade de navegar, que eu alcancei perante todas aquelas pessoas que estavam naquela embarcação são tão importantes para mim que julgo importante ser capaz de tomar a decisão sobre meus próprios rumos, sem precisar da ajuda de ninguém.

Dizem que sonhar com barcos remetem aos nossos sonhos, mais especificamente o transporte de sonhos e esperanças que temos para nossas vidas... De fato, nada mais estou lutando para conquistá-los nesse momento e é bom saber que tenho as rédeas das minhas atitudes e que tudo que está sendo feito tem ajudado nesse caminho... por outro lado, as águas não estão calmas, há medos aí que precisam ser enfrentados nessa travessia. Oscilações que se mostrarão importantes aprendizados.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Roda



Não é o não fazer, não é o fazer tanto
Tanto que às vezes é visto como nada
Que me tranquiliza

É simplesmente ter deixado de fazer o que não se queria
Longe do que não se suportava
Mais perto de si, do que se acredita

Tempo puro, devolvido a mim mesma
Liberta da tirania do presente que estou.
Tempo dos acontecimentos que se encaixam um outros mundos, realidades variantes, tempo que se comunica com outros presentes

E é nesse emaranhado, na coexistência que vejo
a roda da vida girando
A roda da fortuna girando
de fora
Esperando a hora certa de pular nela de novo
Esperando, desta vez, fazer com  que os acontecimentos que venham não sejam rebatidos apenas no presente que os atualiza, mas que variem nos distintos tempos e mundos da minha existência.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Todo dia

Todo o dia que começa  traz desânimo, conforto ou esperança às pessoas.

Pessoas que vêm e vão, movimentando-se num contínuo entre suas casas, trabalhos e compromissos,
Levando pacotes, mochilas cansadas, bolsas, embrulhos, presentes e verduras.
Gente que vai e que vem,
que carrega nos olhos o peso da semana.
As urgências, cada um sabe das suas.

Todo dia pessoas são demitidas, entram ou saem de seus trabalhos,
encontram algo melhor ou seguem buscando o melhor para si,
incessantemente.
Para poderem dar o melhor de si, de forma menos cruel e avassaladora.

Numa cidade de caos, todo o dia é uma luta.
Sair, chegar, voltar.
Todo dia é um dia a mais...  

A gente envelhece a cada dia.