sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Vai descer! 5701 Metrô Conceição-Estação Berrini CPTM: diário de bordo

A fila desmembra-se em duas. Quem chega, tem que ir para a segunda, pois a primeira é destinada àqueles passageiros que serão os próximos a embarcar e a outra para os que embarcarão somente na próxima viagem, devido nem tanto ao baixo número de assentos, mas à falta de espaço no corredor – fato claramente lamentado pelos cobradores, que desejariam formar três filas dentro da perua. Quando os da primeira fila subirem, a segunda se transfere para o espaço da primeira, tornando-se primeira e possibilitando que uma nova fila surja.
De dentro da lotação o cobrador é mais do que o co-piloto. Além de ajudar o motorista, avisando quando as portas podem ser fechadas, colocando a mão para fora da janela para facilitar a mudança de faixa, ele ajuda senhoras e senhores de idade a descer e subir da lotação, passando o cartão para eles e girando a catraca, avisa aos perdidos aonde se situam os locais nos quais devem desembarcar e colocando bolsas, malas e outras bagagens na parte da frente da lotação para que os carregados possam passar no meio dos outros sem causar. No final da viagem, eles descem e o cobrador entrega os pertences pela janela. Além disso, ele também é o responsável por zelar pela ordem e dentro da perua nos momentos mais críticos, controlando até que ponto os passageiros de fora podem embarcar, numa espécie de “apertômetro” – até que ponto a pressão do aperto dos outros e do contato com o corpo alheio não é prejudicial à integridade física própria. Este senso é variável e, às vezes, tem-se a impressão que está desregulado:

“vamos subindo mais um degrauzinho para poder fechar a porta”

“pessoal aí do fundo, dá mais um passinho pra trás por favor, pra quem está na catraca poder passar”

“quem ta aqui na frente e vai descer, já vai passando pra trás porque não pode descer pela frente”

“ fecha a dois”

A “dois” seria a porta da saída, a mais controlada nos momentos de lotação, para que espertinhos não resolvam entrar por trás e não pagar passagem. Vez ou outra, quando a situação é muito crítica mesmo, é até permitido que os passageiros embarquem por trás, contanto que, antes disso, entreguem o cartão pela janela ao cobrador, que o passa no visor e gira a catraca, contabilizando a passagem. E assim a viagem decorre, de ponto a ponto, às vezes um pouco apressada, realizando o motorista manobras arriscadas em alta velocidade. As viagens são cronometradas, têm um cronograma de horários que precisa ser cumprido, principalmente quando se trata da última viagem do dia. Olho pela janela. Um tanto quanto distraída, quase me esqueço de dar o sinal. A porta já se abriu. Apressada, passo por entre os passageiros em pé, cheios de sacolas, bagagens e mochilas, e grito ao cobrador: “Vai descer!”

4 comentários:

A autora disse...

Uma informação por vez.
Ponto e parágrafo.

...

Muito bom, poderia entrar no meu próximo TCC, um livro reportagem sobre andar de ônibus em SP.

bjs

tyker disse...

Muito bom, passo por essa linha todos dias, hoje liguei denunciando para o 156.

Aceita mais uma crítica construtiva? Concordo com a Rachel... "ponto e parágrafo". rsrsrrsrsrs

Rosa Helena disse...

Concordo plenamente com Cláudia Sciré e acrescento mais um agravante. Em pleno retorno das férias somos obrigados a viajar como "sardinhas em lata" pois segundo informação segura, tem dois carros parados porque os "bunitus" não fizeram a manutenção que deveria ter sido feita em Dezembro, mês em que o movimento diminue. É um absurdo termos que passar por isso todos os dias.
Talvez até quando acontecer um acidente bem grave, neh? Gostaria de saber de quem é a responsabilidade. Se os motoristas não querem trabalhar as cooperativas deveriam substituí-los, porque com certeza deve ter alguém precisando da vaga! E devemos aproveitar que é ano de eleição e cobrar mais dos órgãos competentes , ou... incompetentes!

Rosa Helena disse...

HOJE DINOVO MAIS UM TORMENTO NESTA LINHA. QUERO TAMBÉM DEIXAR REGISTRADO MINHA INDIGNAÇÃO QUANTO À EDUCAÇÃO DO COBRADOR ELISEU SILVEIRA(ACHO QUE É ESSE O NOME DELE)O QUAL SE DÁ O TRABALHO DE FICAR DISCUTINDO COM O PASSAGEIRO, TENTANDO EXPLICAR O INESPLICÁVEL. QUERIA ME CONVENCER QUE EU NÃO DEVERIA DESCER PELA PORTA DA FRENTE MESMO DEPOIS DE PAGAR MINHA PASSAGEM...COMO EU IRIA CHEGAR A TÉ A PORTA DE TRÁS PRA DESCER COM DUAS SACOLAS E O VEÍCULO LOTADO? REALMENTE DEVERIAM SELECIONAR MELHOR OS COBRADORES...NÃO QUERO COM ESTA RECLAMAÇÃO GENERALIZAR, PORQUE SERIA INJUSTA. JÁ ACONTECEU DE FICAR BOQUIABERTA COM A EDUCAÇÃO E A PACIÊNCIA DE MUITOS MOTORISTAS E COBRADORES DESTA LINHA. SERÁ QUE NÃO TÁ NA HORA DE COLOCAR UM ÔNIBUS PARA ALTENDER ESTE INTINERÁRIO, PORQUE USUÁRIOS É QUE NÃO FALTA!!!